terça-feira, 19 de junho de 2012

Quando a cultura influencia

Dizem, ser gay vem de dentro. Discordo, acho que o cara que gosta de ser gay é muito influenciado pelo meio.
Dia desses estava ouvindo Geni, do Chico Buarque. Cheguei a conclusão que musicas desse tipo injetam na mente das pessoas o desejo de ser como o personagem do cantico, que aliás, é sensacional. Passa a ser legal, irreverente, incondicional, belo e amoroso ser como Geni. Dar, um ato de desapego e amor por todos.
Mas se você perguntar para um psicólogo ele provavelmente vai falar que é um reforço de ação, um estímulo. Até aí eu concordo; Concordo com a estrutura de feedback e reforço, da comportamental. Sim, TAMBÉM. Mas não é só isso.
Do lado cultural e topológico linguístico, semantico, a música comentada induz à ruptura do paradigma, das convenções, da forma topológica do sujeito. Essa forma, que é a normal, assim como não é normal dar para todos os mendigos, loucos e lazarentos, é rompida pela ilusão induzida da música: é lindo ser como Geni. Mas essa não é a única musica. Estamos cercados delas, e outros conceitos.

Claro que o ponto em questão é conservadorismo x inovação; Bem, não seria inovação nenhuma morrer porque todo mudo tenta ficar vivo. Nem querer ser miserável porque "todos" desejam a riqueza (assim entre aspas porque esse ponto é fácil de contravenção). Assim, não é inovação nenhuma andar pra trás, se o seu pé foi feito para andar pra frente.

Talvez, darwinisticamente se falando, é possível que os sujeitos machos humanos que davam tendiam a ter mais probabilidade de sobrevivência, em sua evolução. Mas isso seria contraditório pois não existem índios homossexuais;

Veja o artigo:  no final você vai ver que o mal sintomático é recente e contaminado pelo homem branco, de certa forma:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u426640.shtml

Por isso, do ponto de vista semantico, novas formas de relacionamento surgem com a urbanidade, e seus emaranhados rizomáticos e não estruturados na lógica da árvore hierárquica. Quebram-se todas as regras, inicios e fins, bordas semânticas. Invariavelmente, por evasão de tensão topológica que extrapola o limite de contenção, uma vez que tudo o que é natural já não é mais, e também por combinacionismo automatizado das semanticas comportamentais, como se fossem novas redobras barrocas dentro dos limites sociais que autofágicas, permitem-se infinitamente desdobrar.

Outra hipótese, interpretativa mística, diz que a tradução da letra é uma ode a um demonio feminino, poderosamente abrangente:


De tudo que é nego torto (entre todos os possuidos por demonios)
Do mangue e do cais do porto (do inferno e das bordas da morte)
Ela já foi namorada (ela já possuiu a alma e o corpo)
O seu corpo é dos errantes (ela baixa onde permitem, os que errantes nos caminhos da vida)
Dos cegos, dos retirantes (dos que não veem a palavra, dos que fogem da verdade)
É de quem não tem mais nada (e de quem já foi roubado em todo seu óbolo)
Dá-se assim desde menina  ( esse demonio sempre foi assim, surgiu assim)
Na garagem, na cantina  (...)
Atrás do tanque, no mato  ( ...)
É a rainha dos detentos  ( é a mais poderosa dos banidos da luz)
Das loucas, dos lazarentos  ( de todos os absolutamente amaldiçoados)
Dos moleques do internato  ( dos de futuro frágil e amaldiçoados em familia)
E também vai amiúde  (é astuta e caprichosa)
Com os velhinhos sem saúde  ( ... )
E as viúvas sem porvir  ( as viúvas não convertidas, sem lugar de salvação)
Ela é um poço de bondade  ( eis aqui a mentira, pois os demonios não se escusam em mentir muito )
E é por isso que a cidade  ( ...)
Vive sempre a repetir  (...)
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo – Mudei de idéia
– Quando vi nesta cidade
– Tanto horror e iniqüidade  ( Aqui, uma jogada perversa, comparando o comandante na situação de Sodoma e Gomorra, criticando ironicamente a Deus)
– Resolvi tudo explodir
– Mas posso evitar o drama
– Se aquela formosa dama  ( Mas aqui está a armadilha, pois na original não se conclui assim...)
– Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela  ( Donzela?)
– e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre  ( Veja a preferencia de um demonio a coisas imundas)
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco  (Aqui outra armadilha: o pecado de todos da cidade seria ainda pior que sua "dedicação e entrega" pelo próximo, o que é uma mentira pois essa entrega não é para salvação e sim para corrupção completa)
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Assim, creio que, de diversos pontos de vista, esses são apenas três, é possível sim que o ambiente seja influenciador da conduta, e até certo ponto, indepentente da razão natural, o que poderia ser chamado de "certo, bom, belo, ético e correto". 
Entretanto, para o liberalismo e para o capitalismo, esses termos são irrelevantes. Importam outras forças.


Assim, se você deseja parar, preste muita atenção no seu dia, especialmente naquilo que pode estar te induzindo a fazer algo que você não concorda, isto é, se você não deseja fazer. Não estou criticando nem tentando te induzir a fazer isso ou aquilo. Mas se você leu até aqui é porque não quer mais ser gay, ou acha o assunto bem interessante.


Novamente: cuidado, atenção, memória e calma, com relação ao seu dia. Pois nem bem amanhece a alma já  pensou em tantos desamores....

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